Bolsa cai e dólar sobe com ambiente externo tenso entre Estados Unidos e China

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Por Danielle Fonseca e Flavya Pereira

São Paulo – A persistente dificuldade de China e Estados Unidos assinarem um acordo comercial e a continuidade de conflitos na América Latina, fizeram o Ibovespa encerrar em queda pelo segundo dia seguido, com perdas de 0,64%, aos 106.059,95 pontos, depois de chegar a atingir a mínima de 105.260,78 pontos ao longo do pregão. O volume total negociado foi de R$ 35,036 bilhões, impulsionado pelo vencimento de opções sobre o Ibovespa.

“O mercado segue ruim desde ontem, o clima externo não está ajudando. Tem o medo da situação da América Latina, mas não sabemos como isso vai impactar em fluxo de estrangeiros”, disse o gerente da mesa de operações da H.Commcor, Ari Santos, que lembra ainda que o dia foi de vencimento de opções sobre o índice, com vendidos vencendo a briga e maior volatilidade hoje.

A América Latina passa por um momento delicado, com destaque para a continuidade de conflitos no Chile e para a situação nebulosa na Bolívia, depois da renúncia de Evo Morales. Os temores em relação à economia chilena aumentaram nos últimos dias, como o peso chileno mostrando fortes quedas. No entanto, há pouco, o banco central chileno anunciou uma operação de swap cambial e injetará US$ 4,0 bilhões no mercado para conter a desvalorização da moeda, o que chegou a refletir por aqui, fazendo o dólar futuro reduzir ganhos.

Além da situação dos nossos vizinhos, a agência de notícias “Dow Jones” afirmou que fontes revelaram que conversas entre a China e os Estados Unidos travaram em função de compras de produtos agrícolas, embora o presidente norte-americano, Donald Trump, tenha dito que a China tinha concordado em ampliar importações de soja, carne de porco e outros produtos. A notícia fez o Ibovespa chegar a cair mais de 1% nesta tarde.

Já na cena doméstica, o mercado também mostra alguma cautela de olho nos desdobramentos da saída do presidente Jair Bolsonaro do PSL e da criação do novo partido.

Entre as ações, as de bancos têm pesado desde ontem e encerraram em baixa, caso do Itaú Unibanco (ITUB4 -1,00%) e do Bradesco (BBDC4 -1,03%), embora tenha reduzido perdas perto do fim do pregão. Para o gerente da mesa de operações da H.Commcor, a notícia de que a Caixa Econômica cortou os juros do cheque especial ontem, pesou sobre as ações do setor, com receio de maior concorrência. Os papéis da Vale (VALE3 -1,63%) e de siderúrgicas também ampliaram perdas diante das dúvidas sobre um acordo entre as duas potências mundiais.

As maiores quedas do Ibovespa, por sua vez, foram da CSN (CSNA3 -3,46%), do Magazine Luiza (MGLU3 -2,60%) que concluiu sua oferta de ações hoje, e da Eletrobras (ELET6 -2,45%), que reflete notícia de que sua privatização deve ficar para 2021. Na contramão, as maiores altas são da TIM (TIMP3 2,68%), da Cosan (CSAN3 2,29%) e da WEG (WEGE3 2,88%).

Amanhã, além de continuar acompanhando a situação no exterior, investidores devem acompanhar indicadores como a produção industrial e vendas do varejo na China. Já nos Estados Unidos, serão divulgados os pedidos de seguro-desemprego e índice de preços ao produtor.

Para a Guide Investimentos, a “situação caótica vivida em diversos países na América do Sul” e a “intensificação dos protestos no Chile tem contaminado o mercado brasileiro” nas últimas sessões, o que ainda pode trazer cautela.

O dólar comercial fechou em alta de 0,55% no mercado à vista, cotado a R$ 4,1910 na maior alta desde 13 de setembro de 2018 quando a moeda fechou na máxima histórica frente ao real a R$ 4,1970 – também encerrou na cotação máxima do dia. A sessão foi marcada pela continuidade das incertezas globais em relação aos avanços nas tratativas comerciais entre Estados Unidos e China. Além do mercado monitorar os conflitos políticos na América Latina.

“Ainda repercutiu os sinais contraditórios emitidos pelo presidente [dos Estados Unidos] Donald Trump sobre o andamento das negociações comerciais com a China”, comenta o diretor da Correparti, Ricardo Gomes. Potencializando o ambiente de incertezas, ele destaca a desvalorização dos pesos mexicano e chileno, além do recuo das demais moedas pares em relação ao dólar.

Após o fechamento do mercado à vista, o contrato futuro para dezembro, que chegou à máxima de R$ 4,1950 no dia, passou a renovar mínimas sucessivas a R$ 4,1690 em reação ao anúncio do banco central do Chile que realizará amanhã a operação de swap cambial e injetará US$ 4,0 bilhões no mercado para conter a desvalorização do peso chileno. “É uma operação muito similar a nossa e acabamos reagindo a essa notícia, mas foi pontual”, ressalta o analista da Quantitas, Matheus Gallina.

Após fechar na segunda maior cotação da história, o mercado doméstico monitora se o Banco Central (BC) anunciará alguma intervenção para conter a alta da moeda dada como “exagerada”. O diretor do Ourominas, Mauriciano Cavalcante, acredita que o BC deve “entrar no mercado” amanhã na tentativa de conter algum avanço adicional da moeda na abertura dos negócios. Já Gomes chama a atenção para atuação do BC durante o mercado a sessão.

Amanhã, na agenda de indicadores, tem a repercussão dos dados de varejo e da produção industrial da China que “deverão ser determinantes” para o comportamento do mercado na abertura dos negócios, ressalta Gomes. No início da tarde, o presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano), Jerome Powell, discursará novamente, desta vez, no Comitê de Orçamento da Câmara dos Deputados.