Bolsa cai e dólar fecha estável em dia de tensão externa

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São Paulo – Após oscilar entre leves quedas e altas ao longo do pregão, o Ibovespa fechou em baixa de 0,35%, aos 104.109,07 pontos, refletindo a maior cautela vista no exterior enquanto investidores aguardam novidades sobre o pacote de estímulos nos Estados Unidos e monitoram o avanço da pandemia de coronavírus. O mercado ainda espera eventos e indicadores relevantes previstos nos próximos dias, como a decisão de política monetária do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) amanhã.

Na cena doméstica, os dados mais fortes que o esperado do mercado de trabalho impediram o índice de aprofundar perdas, como visto nas Bolsas norte-americanas no fim do dia.

“Após ter o Ibovespa ter atingido o patamar entre 104, 105 mil pontos, parece que está dando uma parada para tomar um fôlego. Precisamos de mais notícias para que ele volte a andar mais”, disse o diretor de investimentos da SRM Asset, Vicente Matheus Zuffo.

Já o estrategista-chefe da Levante Investimentos, Rafael Bevilacqua, destaca que “os investidores aguardam notícias mais concretas” principalmente sobre o pacote de ajuda norte-americano, além de aguardarem a decisão do Fed e observarem o aumento do número de casos de covid-19 na Europa.

Os republicanos têm de entrar em acordo com a oposição democrata para aprovar o texto do pacote de ajuda de cerca de US$ 1 trilhão no Senado, depois que a proposta do partido governista foi apresentada ontem. Já sobre a decisão do Fed, que será anunciada amanhã, Bevilacqua afirma que a expectativa é que seja sinalizado que as taxas de juros vão permanecer próximas de zero por mais tempo. No entanto, afirma que a decisão sempre traz alguma cautela para os mercados.

O dia também foi de balanços mais fracos que o previsto pelo mercado, como o do McDonald’s, e preocupações com a evolução da pandemia, já que governos como do Reino Unido, Alemanha e Itália têm tomado medidas de restrições para conter a disseminação da doença.

No Brasil, o destaque foram os dados acima do esperado do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), que mostrou o fechamento de 10.984 postos de trabalho em junho, sendo que a expectativa era que ocorresse o fechamento de 220 mil vagas.

O diretor de investimentos da SRM Asset explica que as previsões de analistas têm sido mais dispersas dada à incerteza do cenário, mas que há sinais de que a economia pode não ter sofrido tanto impacto da economia como o previsto. Na sua avaliação, caso outros indicadores domésticos como vendas no varejo e produção industrial venham melhores, o Ibovespa pode avançar mais.

O dólar comercial fechou com ligeira alta de 0,01% no mercado à vista, cotado a R$ 5,1620 para venda, após mais uma sessão de volatilidade e amplitude da moeda, em linha com o exterior com investidores atentos aos Estados Unidos, à espera da decisão no Congresso sobre o pacote de estímulo econômico de US$ 1,0 trilhão e do comunicado de política monetária do Fed.

O diretor da Correparti, Ricardo Gomes, destaca que a sessão foi de giro financeiro reduzido e “certa pressão vendedora” da moeda no contrato futuro com vencimento em agosto. “A frustrante queda na confiança dos consumidores norte-americanos em julho, divulgada pela manhã, represou o movimento de valorização mais acentuada da divisa no exterior”, comenta.

O índice de confiança do consumidor norte-americano medido pelo Conference Board caiu para 92,6 pontos neste mês, após registrar 98,3 pontos em junho, em dado revisado, enquanto analistas esperavam queda para 94,3 pontos.

Amanhã, o destaque da agenda é a decisão de política monetária do Fed, em que Gomes reforça a expectativa dos investidores pelo teor da coletiva de imprensa do presidente da autoridade monetária, Jerome Powell, após a divulgação do comunicado.

“Caso ele sinalize a adoção de medidas de estímulos mais agressivos para a economia, evidenciará a dificuldade para a retomada das atividades plena no curto prazo. Diante disso, veremos a manutenção do viés de desvalorização da moeda em contexto global”, ressalta. O diretor da corretora Mirae Asset, Pablo Spyer, acrescenta que o mercado espera um “Fed dovish”, além da manutenção da taxa básica de juros.

As taxas dos contratos futuros de juros seguiram o movimento do dólar comercial e encerraram estáveis na ponta curta, enquanto na longa tiveram ligeiro viés de alta. Ainda há preocupação com a segunda onda do coronavírus na Europa e nos Estados Unidos, por outro lado, existe a forte chance do Comitê de Política Monetária (Copom) reduzir a Selic (taxa básica de juros) na reunião da semana que vem.

Ao final da sessão regular, o DI para janeiro de 2021 tinha taxa de 1,93%, de 1,93% no ajuste do último pregão; o DI para janeiro de 2022 estava em 2,74%, de 2,74% do ajuste anterior; o DI para janeiro de 2023 projetava taxa de 3,80%, de 3,78%; o DI para janeiro de 2025 tinha taxa de 5,36%, de 5,34% na mesma comparação.

Os principais índices do mercado de ações norte-americano terminaram a sessão em queda, pressionados por resultados trimestrais mais fracos do que o esperado, o que alimentou preocupações sobre o ritmo de recuperação das empresas e da economia dos efeitos negativos da crise do novo coronavírus.

Confira abaixo a variação e a pontuação dos principais índices de ações dos Estados Unidos no fechamento:

Dow Jones: -0,77%, 26.379,28 pontos

Nasdaq Composto: -1,27%, 10.402,09 pontos

S&P 500: -0,64%, 3.218,44 pontos