Bolsa cai de olho em corte na produção do petróleo

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São Paulo – O Ibovespa fechou em queda de 1,19%, aos 77.681.94 pontos, refletindo o receio de que os membros da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) decidam por um corte menor do que o esperado da produção de petróleo, o que pesou negativamente sobre os preços da commodity e sobre as ações da Petrobras. Analistas citaram ainda cautela antes do feriado de amanhã, depois que o Ibovespa já subiu por três pregões seguidos. O volume total negociado foi de R$ 25,1 bilhões. Na semana, o índice subiu 11,71%.

“Não se sabe o tamanho do corte que será decidido pela Opep ainda e já tivemos alguns dias bastante fortes. Para que o índice continue subindo vamos precisar de fatos novos”, disse o analista da Necton Corretora, Glauco Legat.

Os preços dos contratos futuros de petróleo fecharam com fortes baixas, depois de subirem mais de 10%, diante das dúvidas dos investidores sobre se os volumes de corte de produção negociados pela Opep e seus aliados, grupo conhecido como Opep+, serão capazes de estabilizar os preços da commodity diante da forte queda da demanda.

Com isso, as ações da Petrobras (PETR3 -2,57%; PETR4 – 2,82%), que chegaram a subir mais de 6% mais cedo, também fecharam em queda. As ações da Vale (VALE3 -0,25%) e de bancos, como as do Itaú Unibanco (ITUB4 -2,52%) são outras que passaram a cair perto do fim do pregão.

As maiores quedas do Ibovespa, porém, foram da B2W (BTWO3 -5,94%), da Suzano (SUZB3 – 6,69%) e da Localiza (RENT3 -5,14%). Na contramão, as maiores altas foram da CVC (CVCB3 10,12%). da Ecorodovias (ECOR3 5,52%) e da Eletrobras (ELET3 5,50%; ELET6 4,97%).

Mais cedo, o índice acompanhava a alta das Bolsas norte-americanas e chegou a superar os 80 mil pontos na máxima do dia, depois que o Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) anunciou novas medidas para apoiar a economia diante da crise causada pelo coronavírus. O Fed anunciou nesta manhã que irá fornecer até US$ 2,3 trilhões em empréstimos, com linhas de crédito a famílias, pequenas e médias empresas e a estados e municípios.

Amanhã, a B3 ficará fechada em função de feriado, assim como diversos mercados acionários no exterior. Para o analista da Necton, será importante continuar a acompanhar o noticiário em torno da pandemia, no entanto, a percepção é que o pior período dos mercados já pode ter passado. “O mercado começa a ver sinais melhores, mas ainda não dá para ficar otimista”, disse.

O dólar comercial fechou em queda de 1,01% no mercado à vista, cotado a R$ 5,0920 para venda, sendo a primeira vez desde o fim de dezembro de 2019 que a moeda engata uma sequência de quatro quedas seguidas. O bom humor prevaleceu no exterior em meio ao anúncio de estímulos pelo Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano) para a economia dos Estados Unidos.

“Além do otimismo com a aparente desaceleração de casos confirmados e mortes pelo novo coronavírus ao redor do globo, o anúncio de medidas ‘generosas’ pelo Fed, o incluiu a oferta de US$ 2,3 trilhões em linhas de crédito, injetou confiança que o investidor precisava para partir para o risco”, comenta o analista de câmbio da Correparti, Ricardo Gomes Filho. A moeda renovou mínimas sucessivas no patamar de R$ 5,05.

Na segunda parte dos negócios, porém, a frustração de parte do mercado com a reunião da Opep levou a commodity a perder valor e respingar nas moedas de países emergentes e ligadas às commodities. “O que serviu também para arrefecer o ânimo dos investidores de um modo geral”, diz o analista.

Na semana encurtada pelo feriado de Paixão de Cristo amanhã, a moeda encerrou desvalorizada em 4,31%, na maior queda semanal desde 1 de outubro de 2018. Com isso, o dólar interrompeu sete semanas consecutivas de alta.

Na semana que vem, com a agenda de indicadores domésticos esvaziada, o destaque fica com o resultado do Produto Interno Bruto (PIB) da China no primeiro trimestre, além de dados de varejo e produção industrial dos Estados Unidos. “O crescimento da China dará o tom do tamanho do choque no primeiro país a passar por um período de isolamento”, comenta a equipe econômica do Bradesco.

Ainda sobre os efeitos do novo coronavírus no mercado cambial, o diretor de uma corretora nacional acrescenta que, caso o feriado prolongado tenha novas desacelerações, a moeda pode ir ao nível de R$ 5,00 na próxima semana. “A semana promete ser novamente de grande volatilidade e estresse, mas não podemos descartar momentos de ajuste técnico”, avalia o analista da corretora Mirae Asset, Pedro Galdi.