Bolsa avança com melhor no mercado externo e dólar renova recorde

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Por Danielle Fonseca e Flavya Pereira

São Paulo – O Ibovespa fechou em alta pelo segundo pregão consecutivo, com ganhos de 1,12%, aos 116.674,13 pontos, refletindo os novos recordes de Bolsas norte-americanas em meio a um arrefecimento das preocupações com o surto de coronavírus. Analistas ainda citaram como motivo para a alta do índice os balanços corporativos positivos no exterior e no Brasil, em um ambiente de juros baixos, e especulações de que a Selic possa continuar caindo.

O volume total negociado foi de R$ 74,5 bilhões, incluindo o exercício de opções sobre o Ibovespa.

“Ações blue chips, como Petrobras e Vale estão puxando o índice com as commodities se recuperando e investidores menos preocupados com a China. Há uma redução de risco, o discurso já começa a mudar e as coisas estão mais controladas”, disse o analista da Guide Investimentos, Luís Sales.

Para o economista da Órama Investimentos, Alexandre Espírito Santo, cresce a percepção no mercado de que o coronavírus está mais concentrado na China e pode não ser tão grave quanto estimado anteriormente. “Isso está motivando a tomada de risco lá fora, além disso, os resultados financeiros têm saído bons tanto lá fora quanto aqui, o que dá mais segurança em um ambiente de juros muito baixos”, disse.

Além do clima melhor no exterior hoje, na cena doméstica, os dados do varejo, que vieram mais fracos do que o esperado pelo mercado, colaboraram para aumentar apostas em mais uma queda da Selic. Embora a ata do Comitê de Política Monetária (Copom) tenha indicado que o ciclo de queda foi encerrado, há leituras de que o Banco Central deixou a porta aberta para novos cortes. Juros baixos faz com que investidores busquem mais risco, investindo mais na Bolsa.

Entre as ações, as preferenciais da Petrobras (PETR4 2,20%) aceleraram ganhos na esteira da alta dos preços do petróleo. Outros papéis de peso para o Ibovespa, como os da Vale (VALE3 1,95%) também fecharam em alta refletindo a valorização dos preços do minério de ferro.

Já as maiores altas do Ibovespa foram das ações do Pão de Açúcar (PCAR4 5,58%), da Klabin (KLBN11 4,52%), que se beneficia do dólar mais alto por ser exportadora, e da Totvs (TOTS3 4,24%).

Na contramão, as maiores perdas foram da CVC (CVCB3 -2,48%), que é impactada negativamente pelo dólar forte, do Bradesco (BBDC3 -1,43%; BBDC4 -1,33%) e do IRB Brasil (IRBR3 -2,74%).

Na agenda de amanhã, investidores devem ficar atentos ao dados norte-americanos de seguro-desemprego e aos dados domésticos do setor de serviços, que podem reforçar expectativas de queda da Selic se vieram mais fracos como os do varejo.

Para o analista da Guide, a tendência para a Bolsa segue de alta, mas é possível ter volatilidade no caminho, até em função do excesso de liquidez diante dos juros baixos e incertezas que ainda cercam o surto do coronavírus.

O dólar comercial fechou em alta de 0,57% no mercado à vista, cotado a R$ 4,3520 para venda, em patamar inédito pela quarta vez seguida. A alta, quinta consecutiva, foi sustentada pela continuidade de um dólar mais forte no exterior enquanto aqui, o movimento é visto como especulativo.

“Mesmo com um certo alívio no exterior com a desaceleração de novos casos de coronavírus na China, aqui tivemos mais uma sessão de dólar valorizado. A decepção dos investidores veio com as fracas vendas no varejo em dezembro do ano passado, ficando abaixo das previsões”, comenta o gerente de mesa de câmbio da Correparti, Guilherme Esquelbek.

Ele acrescenta que os dados acendem uma discussão de um novo corte de juros dos números fracos que a economia brasileira vem apresentando. “Também ajudou na alta as saídas de investidores estrangeiros que reforçaram posições defensivas no mercado futuro”, diz.

O economista-chefe da Órama Investimentos, Alexandre Espírito Santo, ressalta que, caso o Banco Central prossiga com quedas na taxa de juros, isso alimentará a alta do dólar. “A gente vê que o BC está 4×4. 4 de juros, 4 de câmbio. Mas ele vai fazer o quê depois? Vai vender as reservas cambiais? Eu sou da escola que o dólar alto é preocupante”, avalia.

“Tirando o exportador, acho que ninguém está gostando desse patamar”, diz o operador de câmbio de uma corretora local. A equipe econômica do Fator destaca que o real é a moeda de país emergente que registrou a maior desvalorização até o momento no ano e “não mostra” sinais de valorização no curto prazo.

Amanhã, na agenda de indicadores, tem os dados de inflação dos Estados Unidos. Para o operador de câmbio, a depender dos números, pode ser um novo gatilho para o fortalecimento do dólar no exterior. “Com certeza vai respingar aqui”, pondera.