BNDES terá novas linhas também para reconstrução de catástrofes climáticas

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Foto: Ricardo Stuckert
Aloizio Mercadante

São Paulo – O presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Aloizio Mercadante, participou, nesta terça-feira, da abertura do seminário “Brasil 2050: Rotas de Descarbonização da Economia”, promovido pelo Centro Brasileiro de Relações Internacionais (Cebri), em parceria com o BNDES, o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) e a Empresa de Pesquisa Energética (EPE).

Ele iniciou seu discurso falando sobre a inundação pelas chuvas no Rio Grande do Sul. “Essa tragédia gigantesca do Rio Grande do Sul, abalou de forma decisiva a convicção dos negacionistas do clima. É impossível não olhar mais o tamanho do desafio que está posto. Se a gente olhar os dados meteorológicos de março do ano passado a março deste ano, a terra aqueceu 1,66 grau centígrado e os oceanos 1,5 grau centígrado, e é isso que está por trás desses extremos climáticos cada vez mais frequentes e intensos.”

Segundo Mercadante, toda semana aparecem pedidos de recursos do BNDES relacionados a eventos climáticos. “No BNDES, toda semana está batendo na porta. Nós fomos há um ano pro Rio Grande do Sul na Expointer anunciar medidas por uma seca devastadora para a agricultura, R$ 28 bilhões de prejuízo. Voltamos com aquelas inundações que nós tivemos em setembro. E agora, estamos debruçado 24 horas para pensar políticas para enfrentar a emergência, a urgência e reconstrução. E a agenda da reconstrução, com mitigação, adaptação, ainda nem começou”, comentou.

Mercadante avalia que será “absolutamente decisivo” repensar a ocupação do solo e a reconstrução de Porto Alegre e de boa parte das cidades do RS.

O presidente do BNDES terminou sua participação dizendo que o governo e o BNDES vão anunciar novas medidas de auxílio e novas linhas para a reconstrução do Rio Grande do Sul. “Na segunda-feira, estaremos operando uma linha de R$ 5 bilhões no Rio Grande do Sul, com todos os bancos parceiros. Nós entramos com o Fundo Garantidor de R$ 500 milhões, mas nós precisamos de taxa de juros menores para reconstrução do Rio Grande do Sul. Porque o Fundo Garantidor dá garantia que ele não tem nesse momento, porque ele perdeu o estoque, outros perderam a máquina, outros perderam a sede. Você tem que dar garantia do setor privado para poder financiar e o BNDES vai entrar. Mas nós precisamos de taxas para que ele possa ter um período de carência para reconstruir os seus negócios. Então, o governo também vai lançar novas iniciativas nesta direção”, comentou Mercadante, sem adiantar quais serão as medidas.

Mercadante disse que o Brasil vai precisar cada vez mais de recursos e que será necessário muito funding para a reconstrução “não só do Rio Grande do Sul, mas também para resolver problemas logísticos da região Norte que no ano passado enfrentou a maior seca em 121 anos, de parte do semiárido do Nordeste que está virando árido.”

Ele mencionou um pacto firmado em encontro em Fortaleza (CE) entre os grandes grandes bancos de desenvolvimento público para criar uma solidariedade e fundos para reconstrução. “O Brasil é grande, é forte, precisamos de solidariedade e tecnologia para reconstrução, com mitigação e adaptação. Então, estou convidando publicamente, nós vamos começar uma série de seminários no BNDES para trazer experiências internacionais para reconstrução, como por exemplo, o que foi feito em New Orleans, no tsunami no Japão, na Indonésia, para aprender com essas experiências.”

Atualmente, o BNDES tem o Fundo Clima, com R$ 10,4 bilhões para transição e descarbonização; a TR Inovação, para pesquisas e inovação em novas rotas tecnológicas; e está otimista com uma possível aprovação da Letra de Crédito de Desenvolvimento (LCD) para indústria, no Senado Federal, após aprovação na Câmara e autorização para emitir LCA.

“É preciso aumentar a consciência da gravidade, não é ameaça à terra, é a vida na terra. Precisamos acelerar a transição de descarbonização, temos que repassar todas as políticas públicas, por mais recursos, com mais iniciativa, com mais criatividade, com mais determinação. Espero que vocês contribuam com mais subsídios, vai ser muito bom e o BNDES vai estar liderando esse processo”, finalizou.

BNDES quer chegar a R$ 1 bi em fundo com a Vale para minerais críticos

O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) está lançando um fundo para a mineração de minerais críticos para transição energética com a Vale, que pretende chegar a R$ 1 bilhão, sendo 25% do banco e um gestor privado.

“Vamos fazer um modelo para atrair parcerias e fomentar novas empresas, empresas emergentes de minerais críticos”, disse o presidente do BNDES, Aloizio Mercadante, em participação, nesta terça-feira, na abertura do seminário “Brasil 2050: Rotas de Descarbonização da Economia”, promovido pelo Cebri.

Mercadante também mencionou as medidas do governo para apoiar a indústria siderúrgica a enfrentar a competição chinesa e o protecionismo da indústria norte-americana, europeia, indiana e mexicana. “O Brasil não tinham as alternativas, fizemos a cota, uma coisa suave para não pressionar preços e não gerar inflação, para não comprometer a indústria de máquinas, a construção civil. Só esse movimento levou um anúncio de R$ 103 bilhões de investimentos.”

Pacote de R$ 130 bi para indústria automotiva mostra que governo assumiu política industrial

O presidente do BNDES, Aloizio Mercadante, disse que o pacote de R$ 130 bilhões para indústria automotiva mostra que o atual governo assumiu a política industrial. “Se nós continuássemos isentando a importação de carros elétricos, alguns grandes megas industriais internacionais estariam muito sorridente com o Brasil, mas ficaram de mau humor. Mas nós não temos como importar. Os americanos estão falando de 100% de tributação, mas US$ 7 mil por automóvel produzido nos Estados Unidos. Se nós quisermos ter uma indústria automotiva, nós temos que saber que estamos lidando com esse cenário.”

Mercadante disse que o Brasil tributou a importação, estabeleceu uma política de cotas e está estimulando a bioeletricidade. “Estou vendo empresas no BNDES dizendo que vão fazer um carro com duas vezes mais autonomia que o carro elétrico.”

Ele acredita que o que vai rodar com eficiência no Brasil não vai ser o carro elétrico, mas o veículo movido a etanol elétrico. “Porque a rede de distribuição está pronta. Você sai no etanol, aí ele move o carro elétrico e você volta com total segurança e muito mais barato, com muito menos emissão e muito mais eficiente. Esse é o modelo que todas as empresas estão disputando. Estamos financiado, por exemplo, o P&D de várias empresas automotivas para desenvolvimento dessa tecnologia, que está pronta e que vai vir, com a Toyota e outras, em larga escala no Brasil.”

O BNDES também financia projetos de ônibus elétrico de cinco fábricas, junto com o Orçamento da União e com a Caixa Econômica Federal, para 92 cidades que vão começar a ter frota elétrica em larga escala.

Subsídio americano ao SAF e alto custo de energia no Brasil são desafios à transição energética

Em relação à transição energética, Mercadante acredita que os combustíveis fósseis não vão desaparecer e que o o importante é que as empresas de petróleo se assumam como empresas em transição e acelerem os investimentos para essa mudança por meio de projetos “mais ousados”. Ele citou o SAF (Combustível Sustentável de Aviação) e a liderança do Brasil no desenvolvimento e consumo de biocombustíveis como etanol, etanol de segunda geração, etanol à base de linhaça e milho.

“O Brasil tem uma liderança. O etanol do milho que é a segunda safra vai permitir fazer o boi confinado, diminuir a pressão pelo desmatamento e aumentar a produtividade e a eficiência da pecuária brasileira, que é muito importante na economia mundial. Eu vejo que nós nós temos uma uma perspectiva muito importante””, comentou.

Mercadante disse que a dificuldade do SAF no BNDES são os subsídios americanos: “São US$ 686 bilhões do setor para o setor, não reembolsáveis. Como é que a gente compete? Tem empresas brasileiras que vão produzir SAF, que estavam conversando com a gente e foram para os Estados Unidos porque vem na cabeça o subsídio, e a disputa é muito desequilibrada.”

Para o presidente do BNDES, é preciso acabar com o “negacionismo econômico”, por que a transição energética é mais cara e precisa de incentivos. “Pela primeira vez na história, a nova energia é mais cara que a anterior, então ela precisa de estado, precisa de incentivo e, da mesma forma, nós vamos ter que ter instrumento de defesa comercial, se nós quisermos manter parte da nossa estrutura Industrial.”

Para Mercadante, não é possível ignorar que os Estados Unidos e a União Europeia estão oferecendo subsídios para defesa comercial e compras públicas “para desacoplamento do Ocidente em relação à China e o deslocamento das cadeias produtivas de valor”, e o que o Brasil tem que entrar nessa frente.

Em relação à transição energética, ele também mencionou um estudo da Bloomberg que aponta que o BNDES é o banco que mais financiou energia renovável no estoque, razão pela qual o Brasil só tem 1% das emissões globais na sua matriz é energética, dos 5% que emite. “Às vezes chega mais de 88% a 90% da nossa matriz elétrica e a 47% da nossa matriz de transporte. Então nós avançamos muito”, comentou.

No entanto, o presidente do BNDES disse que se o Brasil não cuidar da geração eólica, haverá um desequilíbrio no processo. “É um setor que gera valor agregado no Brasil, que tem produção de equipamento. Nós precisamos exportar e equilibrar esse setor com algumas medidas regulatórias.”

Mercadante considera que o Fundo do Clima pode ser um instrumento para estimular a geração de energia por fontes solar e eólica. No caso da solar, também estimular a substituição de importações e mais valor agregado. Ele mencionou a atual concentração dos equipamentos na China, que chega a 80% da produção mundial. “Nós precisamos desenvolver equipamentos para a energia solar e há interesse de outros mercados para a gente poder participar de forma mais ativa”, disse Mercadante.

Segundo o presidente do BNDES, 95% das exportações brasileiras vão por navio e o Brasil está bem posicionado para a transição energética de motores nesta indústria, prevista especialmente a partir de 2030. “O Brasil está muito bem posicionado, especialmente na partida. Porque o custo da adaptação para o biocombustível é muito baixo e nós temos liderança tecnológica na área de biocombustível. Temos uma perspectiva muito promissora em biodiesel, metanol, temos que nos dedicar a isso.”

“Temos alguns projetos bons projetos do BNDES nessa área, que vão ser divulgados em breve. E estou convidando também quem tiver, apareça.”

Mercadante disse que o Fundo da Marinha Mercante vai dar um salto, com R$ 5,6 bilhões destinados para vários projetos, de barcaças, empurradores, transporte fluvial, reparo de navios e motorização. “Tem vários projetos, mas o que nós queremos priorizar é a transição energética da navegação. Eu acho que esse é o futuro. Nós temos condições de ter um papel importante nisso e disputar esse mercado que é muito promissor.”

Em relação ao hidrogênio verde, ele acredita que talvez seja o futuro a médio e a longo prazo, mas hoje não é uma uma alternativa.

Mercadante disse que apesar do Brasil ser extremamente competitivo em renováveis, a energia também está ficando cara porque tem muito “penduricalho” na conta do consumidor, o que compromete a competitividade do país. “Nós temos que focar para ter uma energia que é muito competitiva, mas que gere competitividade sistêmica na economia. Não podemos encarecer o preço da energia.”

“Esse é um debate que precisa ser feito também com mais ênfase em relação ao Congresso Nacional. Porque às vezes você vai tratar de eólica offshore e colocam um subsídio para o carvão. Não é possível! Então, nós precisamos discutir isso com franqueza, com clareza, para ter essa liderança na transição energética que o Brasil tem potencial.”

Mercadante defende vincular controle do desmatamento à concessão de crédito

Mercadante chamou a atenção para a necessidade de acelerar o conhecimento e a implantação do Cadastro Rural e vinclular a concessão de crédito a esse dispositivo de controle do desmatamento ilegal.

“Se não tiver o Cadastro Rural, não tem fiscalização sobre desmatamento legal e ilegal”, avalia. “O governo já fez e está precisando aprofundar isso. O BNDES hoje tem 30% do Plano Safra e vamos aumentar a nossa participação, é vincular estímulos à linha de crédito para os produtores que têm o CAR reconhecido.”

Para acelerar esse processo, o presidente do BNDES disse que é preciso criar uma linha de apoio aos Estados para informatizar o sistema de reconhecimento do cadastro. “Não vai ser no porrete que vai andar, é pelo estímulo e o estímulo vem pelo custo do capital para o agro. Eu acho que essa é outra solução fundamental.”

“Da mesma forma, nós temos que estimular com mais instrumentos a rastreabilidade da pecuária. Não só da pecuária, mas sobretudo da pecuária na região. Isso também tem que ser dialogado com os produtores rurais e nós precisamos de estímulos para avançar.”

Resultado do 1o edital de reflorestamento da Amazônia será apresentado hoje em Brasília

Para o presidente do BNDES, quando se pensa o Brasil na agenda climática, tudo começa pela Amazônia. “Nós só temos 5% das remissões do planeta, mas nós temos que entregar o combate ao desmatamento da Amazônia. É isso que vai dar a liderança e a legitimidade ao Brasil em qualquer debate sobre o futuro climático do planeta. E o governo vai entregar.”

Ele disse que o BNDES está fazendo grandes esforços nessa direção. “Se não fosse a burocracia, que às vezes do estado é muito lento, nós já tínhamos liberado R$ 318 milhões para um centro de comando e controle da Polícia Federal, e estamos articulando, com todas as polícias da Amazônia, para combater o crime organizado, o desmatamento, garimpo, porque é isso que está por trás daquele processo predatório.”

Além de combater o desmatamento, Mercadante vê uma “gigantesca oportunidade” de sequestrar carbono na Amazônia. Ele lembrou que o BNDES está alocando R$ 1 bilhão para plantio de árvores na Amazônia e que a diretora socioambiental do banco, Tereza Campello, está trabalhando nesse projeto e vai participar de uma coletiva com a ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima (MMA), Marina Silva, em Brasília, para divulgar o resultado do primeiro edital. “Hoje, nós vamos divulgar o resultado do primeiro edital. Metade é Fundo Amazônia, a outra metade são recursos próprios nossos do Fundo do Clima, com taxa de juros de 1% ao ano. Então, nós vamos lançar e tem grandes empresas que entraram”, disse Mercadante.

Em 2 de dezembro de 2023, o BNDES lançou o “Arco de Restauração na Amazônia”, uma iniciativa construída em parceria com o MMA, anunciado na 28a Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP-28), em Dubai, nos Emirados Árabes. Como primeira ação, foi anunciada a abertura do edital Restaura Amazônia, que destinou R$ 450 milhões do Fundo Amazônia a projetos de restauração ecológica de grandes áreas desmatadas ou degradadas.

“Estamos pegando todo aquele arco do desmatamento, terras devolutas, terras degradadas, para blindar a floresta e em quatro anos ela se regenera. Nós estamos fortemente nessa agenda de combate à desmatamento e vamos entregar mais, que é o plantio. A nossa perspectiva é chegar a 6 milhões de hectares”, explicou o presidente do BNDES, na abertura do seminário promovido pelo Cebri, nesta quarta-feira.

Mas para chegar a essa meta, Mercadante disse que será necessário R$ 50 bilhões e a participação de grandes empresas. “Nós precisamos de solidariedade. Aproveito uma liderança como a Shell e outras que precisam sentar na mesa com a gente e ajudar a pensar uma mobilização de recursos internacionais pra gente poder chegar a 6 milhões de hectares. Nós precisamos de R$ 50 bilhões, nós estamos conversando, chamando a atenção do planeta, porque temos 25% das florestas tropicais e a melhor resposta sistêmica que o planeta pode ter, e a mais barata, é plantar árvores, para sequestrar carbono, numa escala que só Amazônia permite ter.”