BCE segue com política inalterada e diz que economia caminha como esperado

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A presidente do Banco Central Eropeu (BCE), Christine Lagarde / Foto: Adrian Petty/BCE

São Paulo – Mesmo com novos bloqueios adotados desde o final do ano passado para frear novas variantes do coronavírus e com a previsão de contração da atividade no curto prazo, a presidente do Banco Central Europeu (BCE), Christine Lagarde, endossou a decisão de não alterar suas políticas na reunião de hoje, argumentando que as medidas adotadas em dezembro ainda são capazes de mitigar os efeitos da pandemia sobre a economia da eurozona.

“A economia provavelmente terá contraído no quarto trimestre de 2020 e a intensificação da pandemia apresenta alguns riscos negativos para as perspectivas econômicas de curto prazo. A inflação permanece muito baixa no contexto de demanda fraca e ociosidade significativa nos mercados de trabalho e do crescimento. No geral, os dados recebidos confirmam nossa avaliação de base anterior de um impacto de curto prazo pronunciado da pandemia na economia e uma fraqueza prolongada na inflação”, disse ela no discurso de abertura da coletiva.

Em dezembro, o BCE reforçou uma série de medidas acomodatícias para auxiliar a economia da eurozona a atravessar a crise atual, incluindo a ampliação do programa de compra de emergência pandêmica (PEPP, na sigla em inglês) em 500 bilhões de euros, para US$ 1,850 trilhão de euros, e seu prazo até ao menos o final de março de 2022, ao mesmo tempo em que estendeu as operações direcionadas de refinanciamento de longo prazo (TLTROs, na sigla em inglês), entre outras.

Lagarde defendeu a manutenção dos estímulos monetários amplos que, segundo ela, continuam sendo essenciais para preservar as condições de financiamento favoráveis durante o período da pandemia para todos os setores da economia da eurozona. Na avaliação da presidente do BCE, a incerteza permanece elevada na região, inclusive à em relação à dinâmica da pandemia e à velocidade das campanhas de vacinação.

A União Europeia (UE) iniciou o processo de vacinação de grupos prioritários em dezembro do ano passado e já tem duas vacinas contra a covid-19 aprovadas. Um terceiro imunizante – produzido pela AstraZeneca em parceria com a Universidade de Oxford – deve ser liberado até o final deste mês.

“O início das campanhas de vacinação em toda a eurozona é um marco importante na resolução da crise de saúde em curso. No entanto, a pandemia continua a representar sérios riscos para a saúde pública e para a eurozona e as economias globais. O novo surto de infecções pelo novo coronavírus e as medidas de contenção restritivas e prolongadas impostas em muitos países da eurozona estão perturbando a atividade econômica”, afirmou.

RETRAÇÃO ECONÔMICA

O ressurgimento da pandemia do novo coronavírus e a intensificação associada das medidas de contenção provavelmente levaram à retração econômica no quarto trimestre de 2020 e também devem pesar sobre a atividade no primeiro trimestre deste ano como era previsto, segundo Lagarde.

“A evolução econômica continua a ser desigual entre os setores, com serviços sendo mais adversamente afetado pelas novas restrições à interação social e mobilidade do que o setor industrial. Embora as medidas de política fiscal continuem a apoiar famílias e empresas, os consumidores permanecem cautelosos à luz da pandemia e seu impacto sobre o emprego e os rendimentos. Além disso, os balanços corporativos mais fracos e a incerteza quanto às perspectivas econômicas ainda pesam sobre o investimento empresarial”, afirmou.

Olhando para o futuro, Lagarde disse que a implantação das vacinas permite maior confiança na resolução da crise de saúde, no entanto, levará algum tempo até que a imunidade generalizada seja alcançada, e novos desenvolvimentos adversos relacionados à pandemia não podem ser descartados.

“No médio prazo, a recuperação da economia da eurozona deverá ser apoiada por condições de financiamento favoráveis, uma orientação fiscal expansionista e uma recuperação da procura, à medida que as medidas de contenção são levantadas e a incerteza diminui”, afirmou ela, acrescentando que os riscos em torno das perspectivas de crescimento permanecem inclinados para o lado inferior, mas menos pronunciados.