BCE deve reforçar prontidão em fornecer mais acomodação

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Sede do Banco Central Europeu (BCE), em Frankfurt. Foto: Divulgação/ BCE

São Paulo – O Banco Central Europeu (BCE) deve manter sua política monetária inalterada na reunião de quinta-feira, segundo a maioria dos especialistas consultados pela Agência CMA, ao mesmo tempo que voltará a garantir prontidão para agir de forma ainda mais acomodatícia caso seja necessário.

Atualmente, a taxa básica de juros na zona do euro está em zero; a taxa de depósito está em -0,5% ao ano e a taxa para concessão de liquidez para bancos está em 0,25%. O programa de compra de emergência pandêmica (PEPP, na sigla em inglês), que foi elevado em 600 bilhões de euros em junho, deve seguir em US$ 1,350 trilhão de euros com duração até junho de 2021.

Segundo os especialistas, a presidente do BCE, Christine Lagarde, e os outros membros do comitê de política monetária devem aguardar por mais algum tempo os resultados de suas últimas medidas para decidirem qual rumo tomar para promover a recuperação econômica da zona do euro dos efeitos da crise provocada pelo novo coronavírus.

Para o economista sênior da Capital Economics para a Europa, Jack Allen-Reynolds, os países europeus ainda se encontram em um momento delicado, com o caminho em direção à recuperação econômica prometendo ser instável.

Ainda assim, segundo ele, o BCE está seguro com suas últimas ações. “O BCE não parece preocupado no momento”, disse Reynolds, lembrando que, na semana passada o BCE reduziu suas compras de ativo ao nível mais baixo desde a primeira semana de maio. “Ainda há muito espaço de manobra sob o PEPP ampliado recentemente”, afirmou.

“Lagarde já disse que agora o conselho possui tempo o suficiente para avaliar os dados e pensar nos próximos passos”, acrescentou.

AJUSTE DO MULTIPLICADOR

O diretor de macro estratégia do Rabobank, Elwin de Groot, acredita que há uma chance de o BCE aumentar seu multiplicador usado para remunerar o excesso de reservas (tiering multiplier, em inglês) como forma de diminuir o excesso de liquidez que o BCE relatou existir na última reunião.

“Com o PEPP, o excesso de liquidez na zona do euro está em 2,78 bilhões de euros. Esse é um aumento acentuado, e o BCE pode considerar ajustar seu multiplicador para aliviar parte da carga de custos extra que isso impõe ao sistema bancário da zona do euro”, afirma De Groot.

O BCE conta com um sistema de dois níveis de remuneração do excesso de reservas (two-tier system), que entrou em vigor em 30 de outubro de 2019.

Na ocasião, o Conselho do BCE decidiu fixar em seis o multiplicador inicial das reservas obrigatórias dos bancos, que é utilizado para calcular a parte isenta do excesso de reservas das instituições financeiras em relação a todas as instituições elegíveis, e em zero a taxa de juros inicial aplicável aos excessos de reservas isentas.

O multiplicador e a taxa de juros aplicável ao excesso de reservas isentas podem ser ajustados ao longo do tempo pelo Conselho do BCE.

A decisão de introduzir um sistema de dois níveis de remuneração do excesso de reservas visa apoiar a transmissão da política monetária baseada no sistema bancário preservando, em simultâneo, a contribuição positiva das taxas de juros negativas para a orientação acomodatícia da política monetária e a convergência contínua e sustentada da inflação para o objetivo do BCE.

O sistema de dois níveis assegura, portanto, que os custos das taxas de juros negativas para as instituições de crédito não interfiram na boa transmissão da política monetária baseada predominantemente no sistema bancário no conjunto da zona do euro.

MUDANÇAS NO FIM DO ANO

Apesar de não esperar grandes mudanças na política monetária por enquanto, os especialistas concordam que o BCE deve ampliar seus cortes às taxas de juros mais para o final do ano.

“É preciso observar quais serão as mensagens do BCE sobre suas ferramentas políticas existentes. Sua orientação atual sugere que os formuladores de políticas estão abertos a novos cortes nas taxas de juros. Por enquanto, eles julgaram que reduções de taxas seriam uma maneira ineficaz de manter as condições financeiras frouxas”, afirma o analista da Société Génerale, Michel Martinez.

“No entanto, esperamos que essa opção seja reavaliada antes do fim do ano”, acrescentou.