BCE deve ampliar programa de compra de ativos apenas em junho

685
Sede do Banco Central Europeu (BCE), em Frankfurt. Foto: Divulgação/ BCE

São Paulo – O Banco Central Europeu (BCE) deve reforçar seu compromisso de fazer o que for necessário para lidar com os impactos da pandemia do novo coronavírus, mas só anunciará ajustes no programa de compras de ativos em junho, segundo analistas consultados pela Agência CMA.

Assim, o BCE deve manter inalterado seu novo programa de compra de emergências pandêmicas (PEPP, na sigla em inglês) de 750 bilhões de euros, lançado na reunião mais recente do conselho, em 18 de março, bem como manter as operações direcionadas de refinanciamento de longo prazo (TLTROs, na sigla em inglês).

A autoridade monetária também deve manter os juros inalterados,com a taxa básica em zero, a taxa de depósitos de -0,5% ao ano e a taxa da linha com bancos comerciais para concessão de liquidez de curto prazo em 0,25% ao ano.

“Embora não possamos descartá-las completamente, não esperamos que o BCE decida sobre medidas adicionais esta semana. Isso não significa que o BCE não está pronto”, disse o economista do ING, Carsten Brzeski.

“De fato, dada a profundidade da contração, a baixa taxa de inflação, as expectativas de inflação em queda e o risco de um aumento adicional dos spreads dos juros do governo, esperamos que o BCE intensifique seu PEPP. Se velhos padrões se mantiverem, a reunião de junho com uma nova rodada de projeções econômicas seria o momento certo para anunciar tal aumento”, acrescentou.

Ainda segundo Brzeski, “o PEPP e a renúncia ao limite do emissor ainda são suficientes para combater aumentos injustificados nos juros dos títulos do governo, se apoiados por uma comunicação forte”. Os juros dos títulos na Itália e na Espanha tem acelerado, levando a expectativas por ajustes nas compras do BCE.

Os analistas do Danske Bank também afirmaram que a reunião do BCE desta semana não deve trazer novas medidas, mas deve sinalizar prontidão para agir.

“Esperamos que o BCE reitere seu compromisso de estar pronto para aumentar e estender o programa de compras, e estar preparado para agir caso seja necessário”, disseram os analistas em relatório.

Segundo os especialistas do Danske, o BCE deve reconhecer a gravidade da atual recessão como a pior desde década de 1930, e destacar as incertezas sobre sua duração. “A incerteza também reina em relação ao impacto inflacionário. Com a crise do novo coronavírus constituindo tanto um choque de demanda quanto de oferta, seu efeito sobre a inflação no médio prazo não é claro”.

CENÁRIO ECONÔMICO

Os analistas do Rabobank afirmaram que ajustes nas compras de ativos do BCE dependem dos dados econômicos. “A ampliação das compras tornou-se uma resposta política mais provável à deterioração adicional das perspectivas ou ao ressurgimento do estresse do mercado”, disseram, em relatório. “Mas o BCE provavelmente não pode escapar de mais ações mais tarde este ano”.

Os indicadores têm mostrado deterioração forte economia da zona do euro devido à pandemia do novo coronavírus. A presidente do BCE, Christine Lagarde, disse no dia 23 de abril que o Produto Interno Bruto (PIB) da zona do euro pode cair até 15% este ano como resultado da crise provocada pela covid-19.

No mesmo dia foi divulgado que o índice dos gerentes de compras (PMI, na sigla em inglês) sobre a atividade do setor de serviços da zona do euro caiu para 11,7 pontos em abril, seu menor nível histórico, de 26,4 pontos em março, devido à pandemia.

“Os PMIs de abril vieram possivelmente ainda piores do que se pensava”, segundo analistas do Rabobank. “Mais importante, porém, é a natureza incerta dos acontecimentos futuros”. Algumas economias já começaram o processo de reabertura, destacaram, mas existe um risco claro de que as medidas de quarentena permaneçam em vigor por mais tempo se o vírus retornar.

Além da piora nos dados econômicos, outro fator que pode levar o BCE a agir são as altas na Euribor, a taxa de juros média dos empréstimos interbancários da zona do euro.

Analistas do Danske Bank destacam que o BCE já usou a maioria dos mecanismos para lidar com esta situação, como liquidez, garantias e até compras de commercial papers.
Eles explicaram que o BCE não dever cortar a taxa, mas sim aumentar o foco nas compras de commercial papers dentro do PEPP, ou anunciar um programa de compras projetado especificamente para lidar com emissões de curto prazo.

ESTÍMULOS FISCAIS

O BCE também deve reforçar a importância de medidas fiscais no combate aos impactos econômicos da pandemia. “Os membros do conselho do BCE deixaram claro que os governos precisam fazer mais”, disse o economista da Capital Economics, Jack Allen-Reynolds.

Ele destacou que, embora Eurogrupo (que reúne os ministros de Finanças da zona do euro) já tenha concordado com um pacote de pouco mais de 500 bilhões de euros, “é muito pequeno para fazer uma grande diferença e virá na forma de empréstimos, e não de doações”.

Além disso, os chefes de Estado e de governo da União Europeia (UE) concordaram em reunião na quinta-feira passada em criar um fundo de recuperação europeu, mas não houve consenso sobre como financiá-lo. “Mais estímulo do BCE pode reduzir os incentivos dos governos para chegar a um acordo sobre esse assunto”, segundo Brzeski, do ING.

EMISSÃO DE EUROBONDS

Outra discussão que tem sido recorrente entre os países da zona do euro é a emissão de títulos comuns europeus, os chamados eurobonds, visando a fornecer liquidez em especial às economias mais afetadas pela pandemia, caso da Itália e da Espanha. Os analistas dizem que os eurobonds seriam bem-vindos, mas dependem de um longo processo político.

“É claro que não é segredo que o BCE estaria bem com os eurobonds, mas ainda há um processo político complicado a seguir”, dizem analistas da Nordea.

Segundo eles, só é possível criar novos instrumentos de longo alcance em tempos de crise, e a do novo coronavírus “pode ser profunda o suficiente” para apoiar a emissão de títulos comuns.

Por outro lado, é complicado emitir títulos conjuntos devido às constituições de alguns países, como a Alemanha. Ao mesmo tempo, eles questionam: “Se apenas a Alemanha, a Holanda e a Finlândia são contra o título, por que o resto do grupo do euro não emite um título em conjunto e pede ao BCE que o compre?”