Bailey reconhece que inflação ficará acima da meta no Reino Unido

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O presidente do Banco da Inglaterra, Andrew Bailey / Foto: Banco da Inglaterra

São Paulo – O presidente do Banco da Inglaterra (BoE), Andrew Bailey, reconheceu que a inflação no Reino Unido ficará acima da meta de 2% por algum tempo, mas descartou a elevação da taxa de juros para conter o aumento dos preços.

“A inflação deve acelerar e ficar acima da meta por algum tempo. Atribuímos boa parte dessa aceleração aos preços de energia, que estiveram muito baixos, mas não vemos evidências de uma inflação persistentemente acima da meta. Se isso acontecer, será um problema, acompanhamos os preços muito de perto, mas não é o que vemos agora”, disse ele em sessão do parlamento britânico.

“A experiência britânica com a inflação não é a mesma daquela nos Estados Unidos e na eurozona. Aqui, a inflação nunca esteve tão longe da meta. Por isso, acreditamos que não é apropriado elevar a taxa de juros neste momento”, acrescentou.

Em sua última reunião, no início deste mês, o comitê de política monetária previu uma aceleração da inflação para perto da meta de 2% no curto prazo, e avanço temporariamente para acima da meta no final de 2021, devido principalmente à evolução dos preços da energia. Na ocasião, a autoridade monetária reforçou que essa aceleração da inflação deve ser temporária, com a taxa voltando para cerca de 2% no médio prazo.

Falando aos parlamentares, Bailey reafirmou o compromisso do BoE com a estabilidade de preços. “Nosso compromisso é com a inflação. Tudo o que fazemos é para garantir que a meta de estabilidade de preços seja alcançada”, disse. “A relação entre a oferta e a demanda sempre foi crucial para a inflação e agora vemos um certo descompasso em meio à retomada econômica”, acrescentou.

No encontro de 6 de maio, o BoE manteve a taxa básica de juros do Reino Unido inalterada em 0,1% e os estoque de compras de ativos em 895 bilhões de libras. Questionado hoje sobre o nível de intervenção do banco central britânico via aquisição desses ativos, Bailey disse que o mecanismo ajuda a manter o mercado financeiro equilibrado.

“O que fizemos em março [a compra de ativos] foi para ajudar na estabilidade dos mercados financeiros. O desmantelamento dos mercados se espalharia para outros setores se não agíssemos. As pessoas não conseguiram se financiar e as empresas teriam problemas com o crédito”, afirmou ele.

“[A compra de ativos] é uma ferramenta usada em momentos extraordinários e que ajuda no equilíbrio dos mercados, mas os agentes de mercado não devem esperar esse tipo de intervenção fora de momentos excepcionais”, acrescentou.

Bailey disse ainda que na reunião de política monetária, os membros do comitê decidiram manter as compras de ativos inalteradas porque a crise provocada pela pandemia do novo coronavírus não foi totalmente superada.

“Nosso objetivo com essas compras não é apenas equilibrar o mercado financeiro, mas garantir que esse equilíbrio será mantido, por isso, mantivemos o estoque de compras no volume atual”, afirmou.

COMUNICAÇÃO

Em suas declarações aos parlamentares, Bailey também destacou a importância de uma comunicação clara da política monetária, especialmente em tempos de uma crise severa como a provocada pela pandemia de covid-19.

“A comunicação em tempos de uma crise sem precedentes é muito difícil. Quando a economia encolheu 20% por causa da pandemia, o BoE passou a não divulgar suas projeções. Essa foi uma decisão difícil, mas necessária porque as perspectivas eram incertas”, afirmou.

Bailey reconheceu ainda a dificuldade de explicar a funcionalidade de um programa de compra de ativos. “A taxa de juros é um instrumento mais fácil de explicar para o público, mas as compras de ativos são mais complexas”, acrescentou.