Correção nos EUA faz Ibovespa cair mais de 2%; dólar sobe

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Foto: Myles Davidson / freeimages.com

São Paulo – O Ibovespa acelerou perdas no final do pregão e encerrou em queda de 2,42%, aos 98.834,59 pontos, – no menor nível de fechamento desde o dia 13 de julho (98.697,06 pontos) – refletindo a piora das Bolsas norte-americanas, que voltaram a mostrar correções e queda de ações de tecnologia após o pacote de estímulos econômicos ter sido barrado no Senado.

A queda dos preços do petróleo também colaborou para o dia negativo ao impactar as ações da Petrobras, assim como as maiores perdas dos papéis de bancos no fim do dia. O volume total negociado foi de R$ 26,9 bilhões.

O pacote de estímulos norte-americano obteve 52 votos a favor e 47 contrários no Senado, sendo que precisava de 60 votos para avançar. O novo pacote de cerca de US$ 300 bilhões proporcionaria US$ 300,00 em benefícios semanais de desemprego até 27 de dezembro, entre outras medidas, mas é mais modesto do que o planejado anteriormente, o que é contestado pelos democratas.

Para o sócio da RJI Gestão e Investimentos, Rafael Weber, embora os bancos centrais ainda continuem estimulando as economias e provendo liquidez para os mercados, o pacote seria importante para que a atividade nos Estados Unidos mantivesse tração. “O debate sobre o pacote também está contaminado pelo debate das eleições presidenciais norte-americanas e há essa dúvida se a economia pode perder tração. O próprio FED já destacou que é importante a manutenção de estímulos e que a recuperação pode ser lenta”, disse.

Com isso, Wall Street fechou em baixa, após abrir em alta, com o índice Nasdaq caindo mais de 2% e ações de grandes de empresas de tecnologia voltando a mostrar um movimento de correção após fortes altas desde o início da pandemia.

Além disso, os preços do petróleo fecharam em queda depois que os estoques da commodity nos Estados Unidos subiram na última semana, sendo que o mercado esperava uma queda. O movimento foi sentido pelas ações da Petrobras (PETR3 -3,77%; PETR4 -2,86%), que já estavam em queda pela manhã, mas ampliaram perdas. Uma nova fase da operação Lava Jato também foi lançada hoje cedo para aprofundar investigações sobre o envolvimento de funcionários da diretoria financeira da Petrobras em uma rede criminosa capitaneada por altos executivos no Banco Paulista.

O dia ainda foi de perdas das ações de bancos, como do Bradesco (BBDC4 -3,29%) e da Vale (VALE3 -2,45%), que também possuem grande participação no Ibovespa. Já as maiores desvalorizações do índice foram ações das Lojas Renner (LREN3 -4,42%), da Petro Rio (PRIO3 -4,16%) e da Localiza (RENT3 -5,37%).

Na contramão, as maiores altas do índice foram do Pão de Açúcar (PCAR3 14,80%), da BRF (BRFS3 3,72%) e da JBS (JBSS3 2,40%). As ações do Pão de Açúcar dispararam depois que o conselho de administração da companhia aprovou estudos para segregar as operações do Assaí em uma empresa independente, que teria o capital aberto e seria listada no Novo Mercado da B3.

Na cena doméstica, investidores monitoram uma aceleração dos últimos dados de inflação e mesmo a alta acima do esperado das vendas no varejo não chegou a animar, levando a uma alta das taxas de juros futuros. Também chama a atenção o aumento de produtos da cesta básica, como o arroz, o que levou o governo a notificar supermercados e zerar tarifa de importação do produto.

Amanhã, não há muitos indicadores relevantes, com destaque para o índice de preços ao consumidor norte-americano. No entanto, o cenário nos Estados Unidos, em meio a campanhas presidenciais deve continuar a ser monitorado, assim como a possível continuidade de correção das ações de tecnologia. Weber lembra que há quase dois meses o Ibovespa vem oscilando entre cerca de 99 mil a 103 mil pontos e que seriam necessárias novidades positivas ou negativas para que saia dessa faixa.

O dólar comercial fechou em alta de 0,33% no mercado à vista, cotado a R$ 5,3200 para venda, em sessão de forte volatilidade amparado pelo movimento externo que oscilou entre cautela dos investidores e ajuste nas bolsas de Nova York.

O diretor da Correparti, Ricardo Gomes, comenta que as declarações da presidente do Banco Central Europeu (BCE), Christine Lagarde, “minimizou” a recente valorização do euro. “O que fez com que a moeda [da Europa] ampliasse os ganhos ante ao dólar, refletido no índice DXY”, comenta.

O índice que mostra a correlação entre o dólar e outras seis moedas – euro, iene japonês, franco suíço, dólar canadense, coroa sueca e libra esterlina – exibiu forte oscilação na sessão, no qual o real acompanhou o movimento volátil.

Gomes destaca ainda que o mercado “se frustrou” diante as expectativas de uma postura mais agressiva do BCE quanto a política monetária da zona do euro, caso a instituição identifique risco de recrudescimento da inflação, a exemplo do Federal Reserve (Fed, o banco central norte-americano). “O comportamento do real acompanhou o movimento de outros moedas [de países] emergentes após ganhos expressivos ontem”, diz.

“Foi um movimento [de ajuste] totalmente normal, até descartando um estouro de bolha como tem sido sugerido”, acrescenta o economista da Tendências Consultoria, Silvio Campos.

Amanhã, na agenda de indicadores, o destaque fica para o índice de preços ao consumidor de agosto, nos Estados Unidos. Para o economista da Guide Investimentos, Alejandro Ortiz, o movimento deverá ser de estabilidade ou dólar em baixa amanhã acompanhando o resultado dos indicadores, enquanto Campos aposta em continuidade do movimento de ajuste exibido nas bolsas dos Estados Unidos, mas com o investidor local atento ao cenário fiscal.

As taxas dos contratos de juros futuros (DIs) encerraram a sessão em alta, mantendo a trajetória desde a abertura, com os investidores reagindo aos dados domésticos sobre inflação e varejo, que mostraram pressão nos preços do atacado e aumento do consumo. O movimento de colocação de prêmios ganhou força com a piora do ambiente internacional, mas também foi influenciado pelo tradicional leilão de títulos públicos, enquanto a decisão de política monetária do Banco Central Europeu (BCE) trouxe alívio momentâneo.

Ao final da sessão regular, o DI para janeiro de 2022 ficou com taxa de 2,84%, de 2,83% no ajuste anterior; o DI para janeiro de 2023 terminou projetando taxa de 4,11%, de 4,00% após o ajuste ontem; o DI para janeiro de 2025 encerrou em 5,97%, de 5,79%; e o DI para janeiro de 2027 tinha taxa de 6,95%, de 6,74%, na mesma comparação.

Os principais índices do mercado de ações dos Estados Unidos fecharam o pregão em campo negativo, com queda superior a 1%, após as notícias de que o pacote de alívio para o novo coronavírus foi barrado novamente no Senado do país, apesar dos bons indicadores.

Confira abaixo a variação e a pontuação dos principais índices de ações dos Estados Unidos após o fechamento:

Dow Jones: -1,45%, 27.534,58 pontos

Nasdaq Composto: -1,99%, 10.919,59 pontos

S&P 500: -1,75%, 3.339,19 pontos