Ainda há espaço para queda na taxa do crédito imobiliário

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São Paulo – A taxa do crédito imobiliário saiu de 11% para 7% em dois anos, registrando o menor patamar da história, o que tem levado as pessoas a procurarem mais essa opção na hora de comprar um imóvel. Porém, analistas e o setor acham que há espaço para queda no spread dos bancos na hora de conceder o financiamento.

“A possibilidade de queda na taxa existe, não na magnitude que vimos nos últimos dois anos, quando saímos de 11% para 7%. Acredito que há algum espaço para redução, mas tem a questão de expectativa de taxa de juro para cinco e 10 anos”, afirmou a presidente da Associação Brasileira das Entidades de Crédito Imobiliário e Poupança (Abecip).

Segundo ela, ainda que o funding seja poupança, estamos vendo um acréscimo agora. “Não acho que haja um interesse em se aproveitar para ter o maior spread possível. A portabilidade tem funcionado muito bem. Vejo oportunidade para redução, sim, mas não de quatro pontos. Acho que poderá afetar o bolso porque numa prestação de 30 anos pode ser positivo”.

Para o presidente do Sindicato da Construção Civil do Estado de São Paulo (Sinduscon-SP), Odair Senra, o setor teve quatro cincos anos ruim, sendo que no final de 2018 houve certa recuperação com participação de fundos irrigando as construtoras.

“O mercado começou a organizar os benefícios (novo plano diretor em São Paulo e novo conceito urbanístico). Mas ficou represado muito tempo. Fora dos eixos que não tem limitação de tamanho de unidades com os valores da outorga onerosa passando a inviabilizar os imóveis”, justiçando que além dos juros altos, havia problemas burocráticos.

Após um breve período de retomada veio a crise e os stands de vendas foram fechados. No entanto, o setor ainda tem o que comemorar. De acordo com o Sindicato da Habitação (Secovi), houve a comercialização de 2,984 mil unidades residenciais novas na cidade de São Paulo em junho, 24,1% superior a maio mesmo em meio à pandemia. Na base anual, as vendas ficaram 56% abaixo.

Senra ressalta que uma parte disso pode ser explicado pelos juros baixos que levou quem investe em renda fixa a decidir que não era mais o caminho e começaram a investir em imóveis de longa duração.

“As taxas ainda são muito altas de 7% contra a Selic de 2,25%, ou seja, spread muito alto. As entidades têm insistido muito ainda na queda dessa taxa. Cada ponto percentual que cai na taxa de juros é um volume imenso de pessoas que pode entrar na faixa de financiamento. Tudo isso está levando a uma recuperação”, explica o presidente do Sinduscon-SP.

FINANCIAMENTO

Antes, nesse segmento, a Caixa Economia Federal se destacava por oferecer a maior taxa do mercado mesmo a Selic estando a 14%. Mas com mudanças no sistema nos últimos e a mais recente na qual o Banco Central (BC) autorizou o imóvel como garantia na hora pegar o empréstimo, os bancos privados passaram a ver com outros olhos o mercado imobiliário.

“A Caixa continua atuando forte ainda mais com a nova resolução do BC em relação a empréstimo com garantia. O Santander está se destacando, embora a Caixa ainda tenha posição significativa”, diz o analista da Austin Rating, Luis Miguel Santacreu.

Santacreu afirma que o Santander está com uma estratégia muito forte para o financiamento imobiliário que já vinha fazendo antes da pandemia e agora parece que passou a ser o foco de atuação do banco no Brasil.

Arte e criação: Adriana Fornereto

“Não é algo de agora. Viu muito destaque no primeiro momento da pandemia dos bancos renegociando crédito e fornecendo crédito para grandes empresas, com linhas de financiamento que o governo está promovendo junto com os bancos. O imobiliário tem aparecido mais na medida em que as taxas de juros caíram muito e as pessoas estão comprando como investimento ou com mudança de juro porque as regras ficam mais atrativas”.

No final de junho, por exemplo, o banco espanhol reduziu a taxa de juros do crédito imobiliário de 7,99% para 6,99% ao ano (aa) + Taxa Referencial (TR). As novas condições são válidas para todos os novos contratos com parcelas atualizáveis (SAC) nas operações dentro e fora do Sistema Financeiro de Habitação (SFH).

Embora Itaú Unibanco e Bradesco não divulguem suas taxas, o mercado vê a taxa de crédito imobiliário das instituições também ao redor de 7%.

Na semana passada, a Caixa Econômica Federal lançou a contratação de crédito imobiliário utilizando o imóvel como garantia. O programa, denominado Real Fácil Caixa, tem como principal vantagem a taxa de juros reduzida em relação a outras modalidades de crédito.

Com isso, o consumidor poderá escolher a forma de atualização do empréstimo, que pode ser por TR, IPCA ou uma taxa fixa, virando entre 0,70%, 060% e 0,80% ao mês, respectivamente. O prazo é de 180 meses e a quota máxima de financiamento varia entre 50% a 60% do valor do imóvel.

De acordo com o analista da Austin Rating, a tendência de queda nos juros deixa o custo de financiamento mais baixo, impulsionado ainda pela iniciativa do BC que pode ser uma atração e os bancos possam ver algum sentido nisso.

Em junho, os financiamentos imobiliários com recursos do Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimos (SBPE) cresceram 52,8% na base de comparação anual e alcançaram R$ 9,3 bilhões. Na comparação com maio, houve alta de 29,9%, de acordo com dados da Abecip.

No período, foram financiados 33,1 mil imóveis com recursos do SBPE, alta de 48,7% em relação ao mesmo mês de 2019, e de 33,5% ante maio.

Para a presidente da Abecip, Cristiane Portella, a perspectiva de crescimento para este ano passou de 32% para 12% nos financiamentos, em função da crise financeira provocada pela pandemia do coronavírus. “Sob a ótica do que estamos vivendo é até bom, mas bem abaixo da previsão anterior”.

Arte e criação: Adriana Fornereto

RETOMADA AMEAÇADA

Se por um lado a taxa de crédito imobiliário tem sido um importante impulsionador, com possibilidade de cair ainda mais, por outro o aumento de preço do material preocupa o setor.

“Os preços foram muito sacrificados. Isso pode inviabilizar lançamentos. O aço e cimento aumentaram muito o que reflete no preço no final do imóvel”, afirmou o presidente do Sinduscon-SP.

Senra afirma que as empresas de cimento tiveram um consumo muito grande. Porém, estudos do Sinduscon-SP mostram que esse aumento no varejo é porque as pessoas que ficaram em casa durante à pandemia puderam fazer serviços pequenos. “O aumento de custo pode prejudicar a recuperação que vem de um período muito sofrido”.