Ações do Bradesco despencam após resultados abaixo do esperado

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São Paulo – As ações do Bradesco apresentam forte queda e estão entre as maiores perdas do Ibovespa após a divulgação de resultados da companhia. Às 12h50 (horário de Brasília), os papéis BBDC3 e BBDC4 caíam mais de 7%. O papel do Itaú Unibanco (ITUB4), que apresenta os resultados nesta quinta-feira (10), após o fechamento, sentiu o impacto e também recuava mais de 2%.
Apesar da forte participação dos dois bancos terem forte participação (cerca de 16%) no índice, o Ibovespa tinha alta de 0,60%.
Os analistas do BTG Pactual consideraram fracos os resultados do quarto trimestre e as projeções para o ano anunciadas pelo banco ontem à noite, segundo relatório divulgado nesta manhã. “No geral, não gostamos dos números do Bradesco. Além da perda de resultados, a qualidade dos ganhos foi pior do que o esperado e o valor contábil não cresceu muito em 2021. Acreditamos que após o dia do investidor no ano passado, as expectativas para o guidance de 2022 foram talvez excessivamente otimistas e realmente decepcionaram, especialmente na receita líquida de juros (NIII) ao cliente.”
A análise aponta que, dado o macro cenário e o que foi visto no quarto trimestre, a orientação de provisão para 2022 parece ter mais risco negativo do que positivo. “Assim, apesar da nossa visão mais positiva para os bancos incumbentes este ano, não esperamos uma reação positiva do mercado hoje. Esperamos que o Itaú apresente o melhor conjunto de resultados entre os grandes bancos nesta temporada”, finalizaram, reiterando a recomendação de compra para BBDC4, com preço-alvo de R$ 29,00.
A Ativa Investimentos disse que o banco apresentou um resultado misto, com topline em linha com as suas expectativas mas resultado operacional e lucro líquido abaixo em função de maiores despesas operacionais e tributárias. “De positivo, destaca-se o crescimento robusto na carteira de crédito e aumento na margem financeira, que superaram o guidance no acumulado do ano. Por outro lado, as despesas operacionais decepcionaram, subindo 1,1% no ano, acima da projeção de queda entre 1% e 5% no período.”
“Além disso, apesar de ainda em patamares bem acima da série histórica, os indicadores de qualidade de crédito apresentaram deterioração no período. Por fim, o banco também apresentou seu guidance para 2022, o qual consideramos factível e, de maneira geral, semelhante com nossas projeções para o ano”, escreveram os analistas da Ativa.
A XP aponta que o Bradesco reportou resultados fracos no quarto trimestre de 2021, influenciado por maiores despesas e provisões que compensaram seus ganhos. “Apesar da Margem Financeira Bruta mais forte do que o esperado no trimestre, as maiores despesas e provisões compensaram seus ganhos, resultando em lucro líquido de R$ 6,6 bilhões, -4% abaixo de nossa estimativa e -2,7% abaixo do consenso Visible Alpha. O lucro foi impactado por um ajuste não recorrente de marcação a mercado de TVM que foram reclassificados de “disponíveis para venda” para “negociação””, comentaram os analistas.
A XP reiterou a recomendação Neutra para a ação e preço alvo de R$ 26,00. “Embora as provisões tenham aumentado para R$ 5,1 bilhões no 4T21, em grande parte devido ao crescimento da carteira de crédito, o índice de cobertura continuou caindo e atingiu 261%. Isso nos leva a acreditar que há mais espaço para provisões nos próximos trimestres.”
Para Rodrigo Crespi, da Guide Investimentos, o resultado aquém das expectativas de mercado já estava precificado nas ações do banco, desde o resultado do Santander. “O aumento da PDD e expansão do crédito já eram fatores esperados pelo consenso. No lado positivo, os resultados advindos de seguros, previdência e capitalização, onde o Bradesco é um dos principais players do país, alcançou R$3,5 bilhões, 9,8% acima do trimestre anterior e 54,6% acima do 4T20, representando uma linha de resultado significativa para o banco.”
O analista pondera que o guidance construtivo, múltiplos atraentes para o final de 2022, bom provisionamento e apetite para crescer reforçam a recomendação de compra da ação.
TELECONFERÊNCIA
O presidente do Bradesco, Octavio de Lazari, disse que espera ter redução do crédito imobiliário no Bradesco devido ao aumento das taxas de juros e ao longo prazo do produto, mas em consignado e veículos, a carteira deve continuar resiliente por conta da retomada da economia após a pandemia. O banco também espera ter um crescimento menor no ano no crédito para empresas por conta das previsões de baixo crescimento da economia.
“O guidance de crescer de 10% a 14% a carteira de crédito expandida parece ser agressivo mas vamos buscar crescer com qualidade. O ano será desafiador, mas acho que temos condições de equilibrar o crescimento da carteira com a PDD de R$ 15-19 bilhões”, acrescentou o executivo, na teleconferência de resultados do quarto trimestre.
O otimismo para o crescimento também foi apontado para os negócios de investimentos e de carteiras digitais. “A elevação da taxa de juros vai se refletir nos negócios ao longo dos próximos três anos”, avalia.
Em relação à inadimplência, o executivo disse que os índices permanecem controlados e espera que o saldo de provisões se normalize ao longo do ano. “A inadimplência deve continuar subindo mas de forma controlada, com níveis confortáveis que temos hoje”, disse o CEO.
Ele destacou que o ano de 2021 foi mais complexo que o esperado, mas também de lucro recorde, com um payout de 44%, com distribuição de R$ 9,2 bilhões em juros sobre o capital próprio aos acionistas, 67% acima do que foi pago aos acionistas em 2020. “A recomposição dos spreads a partir do 3T21 foi importante para recuperar a perda que houve no começo do ano.”
O banco também espera ter bons resultados em 2022 na área de seguros, sendo 65% do lado operacional e 35% no lado financeiro. “Esperamos crescer o faturamento em 2022. O crescimento no ano passado, que foi um ano difícil, demonstra isso. Continuaremos a realizar as provisões de acordo com a regulação e compromisso com nossos segurados. O guidance de crescer entre 18% e 33% no ano nos dá uma confiança muito grande. Esperamos uma desaceleração da sinistralidade em saúde por conta da melhoria da pandemia”, disse Ivan Luiz Gontijo Júnior, diretor-presidente da Bradesco Seguros.